Ao contrário do que muitas mulheres pensam, o ciclo menstrual não precisa ser um "reloginho" para ser considerado regular, e é normal que haja uma variação de até 7 dias entre um mês e outro!
Além disso, no primeiro ano após a menarca (primeira menstruação) é comum que o ciclo seja muito variável.
Assim, o ciclo menstrual é considerado irregular quando:
Além disso, chamamos de amenorreia um período maior que 3 meses sem menstruar e de oligomenorreia a ocorrência de menos que 8 ciclos menstruais por ano.
Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)
É o distúrbio hormonal mais comum entre as mulheres em idade reprodutiva, com prevalência estimada entre 8 e 13% dessas mulheres.
Essa síndrome tem como componentes chave o hiperandrogenismo (excesso de testostetona) e a resistência insulínica, e apresenta complicações reprodutivas e metabólicas que devem ser diagnosticadas e tratadas precocemente devido ao risco de infertilidade, neoplasia endometrial e síndrome metabólica.
Além disso, apresenta impacto emocional importante devido aos aspectos estéticos que afetam negativamente a auto-estima das mulheres.
Obesidade
Além do aumento do risco para desenvolvimento da SOP, a obesidade é um fator de risco independente para várias alterações hormonais, como concentrações aumentadas de testosterona e insulina. Como consequência, a prevalência de irregularidade menstrual, oligomenorreia, amenorreia e também sangramento uterino disfuncional (episódios de intenso sangramento menstrual) é maior entre as pacientes portadoras de obesidade.
O tratamento é similar ao da SOP, ressaltando que o componente mais importante é a mudança de estilo de vida e perda de peso.
Distúrbios da tireoide
Tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo podem levar a irregularidade menstrual, oligomenorreia, amenorreia e sangramento uterino disfuncional.
O diagnóstico é simples e realizado pelos exames de sangue, em especial o TSH e T4 livre. Caso estejam alterados, podem ser solicitados auto-anticorpos e ultrassom de tireoide para diagnóstico da causa da alteração tireoidiana. O tratamento do distúrbio da tireoide normaliza os ciclos menstruais.
Hiperplasia adrenal congênita (HAC)
É uma doença genética recessiva (ou seja: precisa que haja mutação no alelo herdado pelo pai e pela mãe para que se manifeste) extremamente comum, acometendo até 1% da população, em graus de gravidade muito variáveis.
Pode ser causada por diferentes tipos de mutação que resultam em defeitos nas enzimas das glândulas adrenais (situada acima dos rins), que regulam a produção de cortisol, aldosterona (regulador do sódio e pressão arterial) e precursores da testosterona.
A enzima mais comumente afetada é a 21-hidroxilase, e seu defeito leva a um aumento da produção de andrógenos (precursores da testosterona). Além disso, as mutações mais graves levam a uma doença grave no recém-nascido pela deficiência cortisol de e aldosterona, conhecida como síndrome perdedora de sal.
As formas mais leves (e mais comuns, chamadas "não clássicas") da doença podem ser assintomáticas ou apresentarem sintomas causados pelo excesso de andrógenos, entre eles a irregularidade menstrual. Os sintomas podem ser muito parecidos com os da síndrome dos ovários policísticos, e por isso essa doença deve ser sempre investigada na suspeita de SOP.
Outra forma de apresentação da doença é o desenvolvimento precoce de caracteres sexuais androgênicos, como pêlos pubianos, em crianças.
O diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais, que evidenciam um aumento da 17-hidroxi-progesterona, um precursor do cortisol.
Em alguns casos o diagnóstico genético é importante, como nos casos com alta suspeita sem confirmação laboratorial e em alguns casos de planejamento gestacional, já que a mutação é herdada pelos filhos.
O tratamento depende da gravidade da doença. Nos casos mais graves é necessária a reposição de corticóides, e alguns casos mais leves também podem ter benefícios dessa reposição para regularização da menstruação, melhora dos sintomas androgênicos e em casos de dificuldade para engravidar.
Síndrome de Turner
Diversas outras características físicas típicas podem estar presentes, tais como:
Baixa estatura (grave)
Orelhas proeminentes e com baixa implantação
Implantação baixa do cabelo na nuca
A prolactina é um hormônio produzido pela glândula hipófise normalmente secretada durante a gestação e a amamentação. Porém, esse hormônio pode estar aumentado em algumas situações:
Tumores da hipófise secretores de prolactina (Prolactinomas);
Tumores que comprimem a haste que liga a hipófise ao hipotálamo;
Drogas e medicamentos que interferem na secreção de dopamina (a qual é um inibidor da prolactina), em especial os antidepressivos, ansiolíticos, anticonvulsivantes e neurolépticos;
Hipotireoidismo e outras doenças sem tratamento adequado
A hiperprolactinemia interfere no ciclo menstrual pois a prolactina inibe a liberação dos hormônios sexuais. Além da amenorreia pode haver também galactorreia, que é a produção de leite fora do período da gestação e lactação.
O diagnóstico é feito inicialmente pela dosagem no sangue da prolactina, e, se confirmado seu aumento, após a exclusão de medicamentos ou doenças que elevam esse hormônio, é realizada ressonância magnética da hipófise.
O tratamento na maioria das vezes é realizado com medicamentos que bloqueiam a produção da prolactina. Raramente pode ser necessária cirurgia.
Amenorreia funcional hipotalâmica
É uma causa comum de ausência de menstruações, correspondendo a cerca de 35% das amenorréias secundárias
Insuficiência ovariana prematura
Também conhecida como menopausa precoce, é a perda da função normal dos ovários que ocorre antes dos 40 anos.
Seu diagnóstico é feito na presença de amenorreia > 4 meses associada ao exame FSH > 25 em no mínimo 2 medições com 4 semanas de diferença.
Pode ter causas genéticas, auto-imunes ou iatrogênicas, que são aquelas causadas por algum tratamento, como quimioterapia, radioterapia, etc.
A reposição hormonal nesses casos está sempre indicada, a não ser quando a mulher tem história de câncer de mama ou endométrio.
Veja no blog mais informações sobre algumas dessas causas de irregularidade menstrual e amenorreia citadas aqui!